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Mike Pride's From Bacteria To Boys
Betweenwhile
CD
AUM Fidelity 2010

 

Betweenwhile é um disco desconcertante. Ele começa e acaba com um mesmo tema, Kancamagus, embora com interpretações bem diferentes: a primeira é uma balada arrastada, sem sopro, na segunda todo o tema é interpretado pelo saxofonista, com a secção rítmica relegada para um papel secundário. "Rose" é um bop bem esgalhado, mas o tema que lhe sucede, "It Doesn't Stop", é uma sequência de "movimentos" que se sucedem abruptamente, começando pela repetição de elementos rítmicos que se diriam cortados artificialmente, passando ao quase silêncio de uma balada, subitamente interrompida violentamente por um ritmo acelerado com o saxofone em registo free jazz, que termina com um solo de bateria e uma sequência de repetições braxtonianas. Esta alternância de movimentos prolonga-se por todo o disco.
Creio que existem boas ideias no disco, mas com frequência simples colagens dispostas sem qualquer coerência interna, e nem sempre sequer bem executadas: o baterista é com frequência atraiçoado pelos tiques rock que o denunciam. Não é crime, mas dá para compreender também como é que alguma intenção de provocar – muito típica do rock – substituiu a concepção musical na superstrutura.
Enfim, a coerência pode encontrar-se aqui, na intenção da provocação que resulta na enxurrada de ideias dispersas que percorrem o disco de trinta em trinta segundos e que o tornam cansativo.
E sim, creio que existe um número suficiente de boas ideias que darão um bom disco se Mike Pride parar um tempo para pensar.

 

Darius Jones (sa)
Alexis Marcello (p)
Peter Bitenc (ctb)
Mike Pride (bat)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #11)